sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Dos Alencar, de Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE

Este post é uma continuação do Dos Costa Agra, de Monserrate/Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE. Aqui veremos os ancestrais Alencar (e também os Souza Goulart) de Martinho da Costa Agra, filho de José da Costa Agra, percorrendo 3 gerações para trás, chegando até Leonel de Alencar Rego, um português imigrante, patriarca da família Alencar. A genealogia aqui tratada remete não só aos Malaquias de Queiroz, de Recife/PE, e aos Aquino Malaquias, do Rio de Janeiro/RJ, mas a todos os Alencar do mundo, além também de boa parte dos Agra de Parnamirim/PE e de Campina Grande/PB.

1- Início da pesquisa

Clique para revelar a introdução (parte pouco relevante em termos de genealogia)
Continuando a pesquisa, cheguei à famosa família Alencar (família materna de Martinho da Costa Agra). O livro de Yony Sampaio abrangia essa família, mas encontrei um outro livro também muito bom a respeito: "Vida e Bravura", de José Roberto de Alencar Moreira e Raidson Jenner Negreiros de Alencar. Após alguns meses, quando já havia amadurecido as pesquisas nesse ramo, entrei em contato com José Roberto por e-mail e trocamos mais algumas informações descobertas mais recentemente, as quais também estão aqui nessa postagem.

Agradecimentos

Obrigado a José Roberto de Alencar Moreira e a Raidson Jenner Negreiros de Alencar pela excelente obra que fizeram. Agradeço a José Roberto ainda pelas informações adicionais, gentilmente compartilhadas por email. Obrigado ao genealogista padre Antônio Gomes de Araújo, já falecido, cujo esforço que fez nos anos 40, exaustivamente buscando nos livros antigos das paróquias do sertão, resultou em grande parte do que se conhece hoje sobre a família Alencar. Obrigado ao professor Yony Sampaio, que, além de seus livros, fez a grande gentileza de me mandar algumas fotos e informações de documentos recentemente por ele descobertos. Agradeço também aos primos Herivelton Agra, Onara Peixoto Alencar, Maria das Graças Alves e Ingrid Lopes Neuman pelas informações complementares. E, por fim, obrigado a tia Ana e aos primos do RJ, participantes do grupo "De onde os Malakas vieram", que se interessaram bastante pelo meu trabalho, o que me incentivou a continuar.

2- A pesquisa em si

Como vimos anteriormente, Aurene Malaquias, minha bisavó, era filha de Francisca Aurora, que era filha de Francisco Lino da Costa Araújo, que por sua vez era filho de Geracina Maria do Carmo, que era filha de Martinho da Costa Agra (Alencar por via materna). Francisca Aurora ainda era filha de Aurora Manoela de Carvalho, que era filha de Antônio Pereira de Carvalho, também descendente dos Alencar. Portanto começaremos com a árvore mostrada acima.

2.1 - Família Alencar - Iria e Inácia

Como já vimos anteriormente, Martinho da Costa Agra, meu 6-avô (hexavô), era filho do comandante José da Costa Agra (já tratado na postagem Dos Costa Agra, de Monserrate/Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE) e Iria Francisca de Alencar. Iria nasceu em Exu/PE, outubro de 1764. Faleceu em 28/05/1813. Viveu com sua família entre Granito/PE e Parnamirim/PE. Com seu marido teve ao menos os 5 filhos listados na dita postagem. [1][2]
Em 1812, Iria fica viúva. Casa a segunda vez com o capitão-mor Manoel Álvares de Oliveira, em 01/01/1813, mas não teve filhos com ele. [2]
Assinatura de Iria, obtida em um documento de 1812 que me foi cedido por Yony Sampaio.
Antônio Pereira de Carvalho (tratado na portagem Dos Agra, de Parnamirim/PE, aos Malaquias de Queiroz, de Recife/PE), meu 5-avô (pentavô), era filho de João Pereira de Carvalho Filho (o qual será tratado na postagem futura Dos Pereira de Carvalho, da Bahia, aos Agra, de Parnamirim/PE), que por sua vez era filho de João Pereira de Carvalho (o qual também será tratado na mesma postagem) e Inácia Pereira de Alencar, casados no Crato/CE, 08/01/1802, sendo eles primos terceiros. Inácia nasceu em Exu/PE, 1763 ou 1764. Ela faleceu em 1841. Morava na Fazenda Lameiro (Crato/CE). Com seu marido teve 3 filhos:
João Pereira de Carvalho Filho, Maria Alcina de Alencar, Arcângela Pereira de Alencar. (Abrir detalhes)
  • João Pereira de Carvalho Filho (meu hexavô, que será tratado na futura postagem Dos Pereira de Carvalho, da Bahia, aos Agra, de Parnamirim/PE). [2]
  • Maria Alcina de Alencar ou Maria Arsênia. Casada com um Nicomédio. [2]
  • Arcângela Pereira de Alencar ("Canjinha"). Casou com Pedro Alves de Melo Labatut. [2]
Após ficar viúva, casou com o capitão Antônio Leão de França, com quem teve mais 7 filhos:
Antônio da França Alencar, Joaquim Antunes de Alencar, Antônio Pereira de Alencar, Francisco Leão da França Alencar, Reinero Antunes de Alencar, Sinforosa Teodolina de Alencar e Luísa Jaspe de Alencar. (Abrir detalhes)
  • Antônio da França Alencar, nascido em 1809 e falecido em 03/05/1891. Casou com Praxedes da França Alencar (sua prima legítima), que faleceu em 17/10/1885. [2]
  • Joaquim Antunes de Alencar. Ordenado padre em 1845 no seminário do Maranhão. [2]
  • Antônio Pereira de Alencar ("Carapuça"), nascido em Exu/PE, 15/03/1806, e falecido em 11/03/1889 de apolexia. Ordenado padre em 1845 no seminário do Maranhão junto com seu irmão Joaquim. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, além de Deputado. Foi também Cavaleiro da Ordem de Cristo. Tinha a vista esquerda defeituosa. [2]
  • Francisco Leão da França Alencar, falecido em 12/06/1881. Casou com Maria Leopoldina do Monte, do Piaui. Senhor do engenho Lameiro, no Crato/CE. [2]
  • Reinero Antunes de Alencar. Casou com Agostinha do Monte Alencar. [2]
  • Sinforosa Teodolina de Alencar. Casou com Tristão José Borborema. [2]
  • Luísa Jaspe de Alencar, nascida cerca de 1817. Casou com Luciano Pereira Luna. [2]
Inácia herdou de seu pai a Fazenda Canavieira, em Exu/PE. Dela descendem o marechal Alexandrino de Alencar (seu bisneto) e o general Humberto de Alencar Castelo Branco (seu tetraneto), primeiro ditador do Brasil.

2.2 - Família Alencar - Joaquim

Iria Francisca de Alencar e Inácia Pereira de Alencar, minhas 7-avós (heptavós), eram filhas do capitão Joaquim Pereira de Alencar e Teodora Rodrigues da Conceição (que tratarei no tópico 2.4), casados em 20/06/1858. Joaquim nasceu na Fazenda Caiçara, Exu/PE, em 1731 (data deduzida por declarar-se com 40 anos em um documento de 1771). Não se sabe quando faleceu, mas ainda era vivo em 1795, aparecendo no casamento de uma de suas escravas. Segundo Padre Gomes, faleceu no Sítio Pau Seco, no Crato/CE. Herdou de seu pai a Fazenda Caiçara, onde viveu com a família a maior parte da vida. Com sua esposa teve ao menos 8 filhos:
Bárbara Pereira de Alencar, Inácia Pereira de Alencar, Iria Pereira de Alencar, Luis Pereira de Alencar, Genoveva Pereira de Alencar, Josefa Pereira de Alencar, Leonel Pereira de Alencar, Antônia Pereira de Alencar. (Abrir detalhes)
  • Bárbara Pereira de Alencar, nascida em Exu/PE, 11/02/1760, e falecida em 28/08/1832. Casou com o português José Gonçalves dos Santos. Morou no Sítio Pau Seco, no Crato/CE. Ficou conhecida como "A Heroína do Crato", por sua participação na Revolução de de 1817, nas Guerras da Independência (anos 1822 e 1823) e na Confederação do Equador (conflitos que tratarei melhor em uma postagem futura A Família Alencar e as Revoluções). [1][2][3]
  • Inácia Pereira de Alencar (já tratada no tópico anterior).
  • Iria Francisca de Alencar (já tratada no tópico anterior).
  • Luis Pereira de Alencar ("Capitão Lulu"), nascido na Fazenda Caiçara, em Exu/PE, 1767. Casou a primeira vez com Teresa Joaquina de Jesus Granja. Casou a segunda vez com Ana Joaquina Pereira da Silva (sua prima terceira) em Jardim/CE, 01/10/1801. Luis aparentemente manteve-se à margem da Confederação do Equador. Foi capitão e juiz de paz. Ele foi o filho que herdou a Fazenda Caiçara. [1][2]
  • Genoveva Pereira de Alencar, nascida em 26/06/1768 e falecida em 03/02/1829. Casou com Inácio Tavares Benevides, o qual envolveu-se nos mesmos conflitos ao lado de seus cunhados Bárbara e Leonel, terminando assassinado em 1824. [1][2]
  • Josefa Pereira de Alencar. Casou a primeira vez com João José. Casou a segunda vez com Alexandre da Silva Peixoto em Barbalha/CE, 1795. Ela herdou a Fazenda Colônia. [1][2]
  • Leonel Pereira de Alencar ("seu Dão"). Casou com Maria Xavier da Silva (sua prima terceira, irmã de seus cunhados Ana Joaquina Pereira da Silva e João Pereira de Carvalho) em Jardim/CE, 01/10/1801. Ao lado de sua irmã Bárbara, envolveu-se nos mesmos conflitos, terminando assassinado em 25/09/1824. Foi juiz ordinário, capitão de ordenanças e vereador na Câmara Municipal da Vila de Jardim no início do século XIX. [1][2][3]
  • Antônia Pereira de Alencar, nascida em Exu/PE. Casou com Manoel Carlos da Silva Peixoto em Barbalha/CE, 01/07/1793. Ela herdou a Fazenda Olho D'água. [1][2]
Joaquim foi comandante da Vila de Exu. Além da Fazenda Caiçara, possuía terras em Barbalha/CE (herança dos avós maternos), para onde se deslocava com frequência. Uma dessas terras em Barbalha era o Sítio Lama, o qual Joaquim vende em 1789. [2]
Foi na Fazenda Caiçara, mais de um século depois, que nasceu Luis Gonzaga, "o rei do baião". [3]

2.3 - Família Alencar - Leonel

Joaquim Pereira de Alencar, meu 8-avô (octavô), era filho do tenente-coronel Leonel de Alencar Rego e Maria da Assunção de Jesus (que tratarei no pŕoximo tópico), casados entre 1728 e 1730. Não se sabe ainda o ano em que Leonel nasceu, nem o local exato (provavelmente na freguesia de Freixieiro de Soutelo ou na freguesia de Viana do Castelo, ambas contidas no concelho de Viana do Castelo), pois até o momento não foi encontrada a sua certidão de nascimento. Não se sabe, também, quando e onde faleceu, mas consta como vivo em 1749, aparecendo em um processo, e como falecido em 1752, quando Maria da Assunção aparece em um documento como sendo viúva. Juntamente com 3 irmãos (Marta, João Francisco e Alexandre), Leonel saiu de Freixieiro de Soutelo e emigrou para o sertão de Pernambuco. Nas terras onde hoje formam o município de Exu, fundou a Fazenda Caiçara, às márgens do Rio Brígida, onde se estabeleceu. Com sua esposa teve ao menos 9 filhos (não estão em ordem):
Joaquim Pereira de Alencar, Dâmaso de Alencar Rego, Leonel de Alencar Rego, Rita da Exaltação, José Antônio de Alencar, Jerônima, Serafim, Maria José e Ana Maria. (Abrir detalhes)
  • Joaquim Pereira de Alencar (já tratado no tópico anterior).
  • Dâmaso de Alencar Rego, nascido em Exu/PE, 1739. Casou com Maria Rabelo do Carmo em Missão Velha/CE, 10/02/1768. [1][2]
  • Leonel de Alencar Rego, nascido em Exu/PE. Casou com Joana da Silva em Barbalha/CE, 10/02/1768, onde já morava. [1][2]
  • Rita da Exaltação, nascida em Exu/PE. Casou com o português Nicomedes de Teive Barra, contra a vontade de sua família. [1][2]
  • José Antônio de Alencar, nascido em Exu/PE, 1743. Casou com Maria Francisca da Conceição em Icó/CE, 01/06/1767, irmã do futuro coronel Pinto Madeira (este viria a tornar-se inimigo ferrenho dos Alencar e protagonizar a Guerra do Pinto, a qual teve como efeito colateral a destruição de diversos documentos históricos). Foi Alferes. [1][2]
  • Jerônima Pereira de Alencar. Casou com o capitão João Lopes Caminha (português), tronco da família Lopes Caminha. [1][2]
  • Serafim Pereira de Alencar. Casou em Icó/CE. [1][2]
  • Maria José de Jesus. Casou com o português (outras fontes dizem que era natural de Icó/CE) Braz de Luna Pimentel, tronco da família Luna, no Crato/CE, 28/11/1767. [1][2]
  • Ana Maria. Casou com Ciríaco da Costa, que, segundo a tradição oral, seria português e médico-farmacêutico. [1][2]
Leonel de Alencar Rego foi um dos muitos portugueses que participaram da colonização do sertão nordestino. Ele teria adentrado o sertão partindo da foz do Rio São Francisco e depois pelos leitos secos do Rio Brígida, os quais, na época, eram as principais estradas da região devido ao cerrado da vegetação da caatinga. Teria vindo na década de 1710 ou 1720, e em 1726 já temos registros de sua presença por lá. No sopé da Serra do Araripe, nas nascentes do Rio Brígida, fundou a Fazenda Gameleira, a qual se tornaria mais tarde o embrião do do município de Exu/PE. Fundou também, pela mesma região, a Fazenda Caiçara (já tratada no tópico anterior), sobre a qual ele aparece, em um documentos de 1730 e 1742, pagando o arrendamento. [1][2]
O primeiro registro no Brasil encontrado por Yony Sampaio data de 1726, e pertence à povoação de Rodelas/BA, onde Leonel consta como escrivão. Na ocasião do casamento de seu filho Dâmaso, em 1768, é referido como tenente coronel.
Como os casamentos de seus filhos sempre se deram com famílias influentes da região, podemos deduzir que os Alencar tinham bastante prestígio por lá. [1]
Descendem de Leonel algumas figuras importantes da história brasileira, cujas linhagens encontram-se descritas no livro "Vida e Bravura", de José Roberto de Alencar Moreira e Raidson Jenner Negreiros de Alencar. São alguns deles (com exceção dos 3 últimos, todos descendentes de seu filho Joaquim Pereira de Alencar):
  • Bárbara Pereira de Alencar, sua neta, nascida em 1760. Heroína do Crato, com participação de destaque na Revolução de 1817, nas Guerras da Independência de 1822 e 1823 e na Confederação do Equador. Sua participação será melhor descrita na futura postagem A Família Alencar e as Revoluções. OBS: esta imagem é um retrato falado.
  • José de Alencar, seu trineto (duas vezes), nascido em 1829, neto de Bárbara Pereira de Alencar e de Leonel Pereira de Alencar (irmão de Bárbara). Escritor renomado, autor de obras famosas como Iracema e Senhora, além de deputado, ministro da justiça, advogado, jornalista e teatrólogo.
  • Raquel de Queiroz, sua hexaneta, nascida em 1910. Foi a primeira mulher a receber o Prêmio Camões, o maior da língua portuguesa. Foi também a primeira mulher a fazer parte da Academia Brasileira de Letras. Era professora, jornalista romancisca, cronista, tradutora e teatróloga.
  • Pedro Nava, seu pentaneto, nascido em 1903. Escritor, médico e pintor. Ganhador dos Prêmios: Personalidade Global (1973), Luísa Cláudio de Sousa (1973), Jabuti (1973), da Câmara Brasileira do Livro (1973), Fernando Chinaglia (1973), de Personalidade Global Literária (1974, Jornal O Globo), entre outros.
  • Alexandrino de Alencar, seu tetraneto, nascido em 1848. Engenheiro naval, almirante da Marinha, senador e ministro do Supremo Tribunal Militar. Foi também cavaleiro da Imperial Ordem de São Bento de Avis. Ele é bisneto da minha heptavó Inácia Pereira de Alencar (tratada no tópico 2.1).
  • Humberto de Alencar Castelo Branco, seu hexaneto (duas vezes), nascido em 1900, pentaneto de Joaquim Pereira de Alencar e Rita da Exaltação (filhos de Leonel), e também tetraneto da minha heptavó Inácia Pereira de Alencar. General e primeiro ditador do Brasil.
  • Miguel Arraes de Alencar, seu hexaneto, nascido em 1916. Advogado e economista. Prefeito de Recife/PE, deputado estadual, deputado federal e 3 vezes governador de Pernambuco.
  • Eduardo Henrique Accioly Campos, seu octaneto, neto de Miguel Arraes. Presidente do PSB e 2 vezes governador de Pernambuco. Foi também candidato à presidência do Brasil em 2014.
  • Patativa do Assaré, nascido em 1909, que não é descendente de Leonel, mas sim hexaneto de seu irmão João Francisco. Grande poeta repentista.

2.4 - Família Rodrigues - Teodora

Como já falado anteriormente, Iria Francisca de Alencar e Inácia Pereira de Alencar, minhas 7-avós (heptavós), eram filhas do capitão Joaquim Pereira de Alencar e Teodora Rodrigues da Conceição, casados em 20/06/1858. Teodora foi deixada na casa de Brígida Rodrigues de Carvalho (filha da minha 9-avó Brígida Rodrigues, tratada na postagem Dos Faria Machado e Rodrigues de Carvalho, de Portugal, aos Agra de Parnamirim/PE), e não se sabe quem foram seus pais biológicos. Terá nascido em 1742, pois, em seu óbito, em 07/11/1792, é declarada com 50 anos. Com seu marido teve ao menos os 8 filhos listados no tópico 2.2.
A tradição oral conta que ela era uma mulher de fibra, que montava cavalos bravios, pegava gado selvagem, rastejava e matava onças. [1]
Há um equívoco contado no livro "Dona Bárbara do Crato", e reproduzido por vários sites, sobre Teodora ser filha de sangue de uma tal Antônia Pereira Rosa, que é descrita como uma rica viúva fazendeira, "senhora de todos aqueles sertões", e que tinha uma ligação pessoal intensa com os Alencar, participando de confraternizações juntos. Em primeiro lugar, em todos os documentos conhecidos onde consta a filiação de Teodora, é sempre mencionado que seus pais são icógnitos e que fora exposta na casa de Brígida Rodrigues de Carvalho. A exemplo disso temos o batismo de Bárbara Pereira de Alencar (em 16/04/1760, com documento original, segundo as anotações de Padre Gomes, no Cartório de Cabrobó, Livro de Registro de Batizados, freguesia de N. S. de Cabrobó, Diocese de Floresta, Pernambuco - 1757-1769, folhas 22 verso e 23), o batismo de Iria Francisca de Alencar (em 28/12/1764, com documento original no Cartório de Ofício N1 de Cabrobó, no Livro de Batizados 12 de março de 1766, 1767 a 1769, folha 37 verso), o batismo de Luis Pereira de Alencar (em 20/11/1767, com documento original, segundo as anotações de Padre Gomes, no Livro de Registro de Batizados, freguesia de N. S. de Cabrobó, Diocese de Floresta, Pernambuco - 1764-1768, folha 35), e o batizado de Genoveva Pereira de Alencar (em 06/07/1768, o original encontrava-se em poder de Ruth de Alencar Leão em 1971), todos filhos dela (as informações sobre as localizações encontram-se no livro "Vida e Bravura", de José Roberto de Alencar Moreira). Em segundo lugar, Brígida Rodrigues de Carvalho (a mãe de criação de Teodora) era uma rica fazendeira solteira, filha de outra também rica Brígida, esta, inclusive, "senhora de todos aqueles sertões", os quais havia herdado de seu pai Francisco Rodrigues de Carvalho, como visto na postagem Dos Faria Machado e Rodrigues de Carvalho, de Portugal, aos Agra de Parnamirim/PE. E, em terceiro lugar, não há sequer um documento mencionando uma Antônia Pereira Rosa, o que seria bastante estranho para uma pessoa influente na região e tão presente na família Alencar. Tudo isso indica que a tal Antônia Pereira Rosa é apenas uma distorção de Brígida Rodrigues de Carvalho, distorção esta que foi sendo criada à medida que a história era contada para as novas gerações (vale salientar que o autor do livro "Dona Bárbara do Crato", nascido cerca de 120 anos após a morte de sua tetravó Teodora, nunca a conheceu, e declara que escreveu o livro baseado em relatos familiares).
Seus verdadeiros pais infelizmente jamais saberemos quem foram. É bem possível que fossem gente humilde, também é possível que fossem índios ou negros. O que é possível fazer, no entanto, é: caso seja encontrado alguém que seja descendente em linha matrilinear (linha exclusivamente feminina, sem homens no trajeto), e esta pessoa fizer um exame de DNA Mitocondrial (DNA passado de mãe para filho, sem interferência do pai), poderemos saber se a origem matrilinear de Teodora é portuguesa, indígena ou africana, preservando um pouquinho dessa história esquecida.

2.5 - Família Souza Goulart - Maria e seus pais

Como já falado anteriormente, Joaquim Pereira de Alencar, meu 8-avô (octavô), era filho do tenente-coronel Leonel de Alencar Rego e Maria da Assunção de Jesus, casados entre 1728 e 1730. Maria nasceu em Salvador/BA (na época, freguesia de São Pedro Velho). Com seu marido teve ao menos os 9 filhos listados no tópico 2.3. Vivia na Fazenda Caiçara com sua família, mas após ficar viúva muda-se para o Sítio Salamanca, propriedade que havia herdado de seus pais.
Maria da Assunção de Jesus, minha 9-avó (eneavó), era filha de Antônio de Souza Goulart e Maria da Encarnação de Jesus. Antônio era natural de Salvador/BA (na época, freguesia de São Pedro Velho) ou de Cabo de Santo Agostinho/PE (na época, freguesia do Cabo), dúvida esta existente por informações conflitantes entre o casamento de seu neto Dâmaso de Alencar Rego e o casamento de seu neto Leonel de Alencar Rego (Filho), os quais são os 2 únicos documentos que citam sua naturalidade. Já Maria da Encarnação era natural de Salvador/BA. Não se sabe ainda quando nasceram, nem o nome de seus pais. O casal teve 3 filhos, sendo Maria da Assunção de Jesus a única de nome conhecido atualmente (mas sabe-se que, dos outros 2, há ao menos 1 homem). [1][2]
Antônio de Souza Goulart, juntamente com seus 2 irmãos José de Souza Goulart (casado na Bahia, nascido em 1703, falecido em 30/09/1750) e João de Souza Goulart, participou de uma bandeira de colonização das cabeceiras do Rio Salgado, na encosta nordeste da Serra do Araripe, recebendo como recompensa do capitão Francisco Martins de Matos, em 22/07/1718, uma sesmaria de 1 légua de terra. Lá se estabelece, e dá o nome de Sitio Salamanca, que foi o berço de Barbalha/CE. Ele também foi proprietário do Sítio Lama e do Sítio Lambedor, na mesma região. Em 11/10/1718, solicitou e obteve uma outra sesmaria na Lagoa do Coachilê, que desaguava no Riacho da Cachoeira (Jardim/CE). [1][2]
Em 1724, houve uma revolta popular que ficou conhecida como "Guerra dos Montes e Feitosas", a qual iniciou-se com o descontentamento a população diante das cobranças abusivas de impostos praticadas pelo ouvidor José Mendes Machado. Antônio tomou o partido do ouvidor, juntamente com a família Feitosa. Já o povo foi liderado pela família Monte. O conflito se estendeu por todo o Cariri, levando centenas de pessoas à morte. Antônio teve que fugir para a região do Rio São Francisco. Em 1731 foi assassinado no Piaui, onde tinha ido tratar de negócios. Após seu assassinato, um de seus inimigos, de nome João Mendes Lobato, se apossou do Sítio Salamanca. Maria da Encarnação de Jesus, então, entra na justiça para reaver sua terra, conseguindo a reintegração de posse em 10/12/1740. Trata-se do primeiro processo de reivindicação de terras do Cariri. [1][2]
A família Goulart, por sua grafia, provavelmente teve origem em um país de lingua francesa. Uma das possibilidades (ainda sem nenhuma confirmação) é de que Antônio de Souza Goulart seja descendente da família Goulart do arquipélago dos Açores, a qual teve início com o belga Govaert Lodewijik (Goulart Luis), nascido em Flandres, que migrou para os Açores em algum momento entre 1470 e 1500 e se tornou o patriarca dessa família por lá. Entre os imigrantes portugueses no período colonial do Brasil, muitos deles eram açorianos.

3- Mapa com os lugares abordados

  1. Exu/PE - Onde se estabeleceu Leonel de Alencar Rego e nasceu seu filho Joaquim Pereira de Alencar (e irmãos) e suas netas Iria Francisca de Alencar, Inácia Pereira de Alencar, Bárbara Pereira de Alencar (e demais filhos de Joaquim). É onde fica a Fazenda Caiçara, a Fazenda Canavieira e demais propriedades da família.
  2. Barbalha/CE - Município que surgiu do Sítio Salamanca, propriedade de Antônio de Souza Goulart. É também onde ficavam os seus sítios Lama e Lambedor.
  3. Crato/CE - Município onde vivia Bárbara Pereira de Alencar, no Sítio Pau Seco (e onde faleceu Joaquim Pereira de Alencar). Também é onde casou e viveu Inácia Pereira de Alencar, no Sítio Lameiro.
  4. Granito/PE - Iria Francisca de Alencar vivia entre Granito e Parnamirm.
  5. Parnamirim/PE - Iria Francisca de Alencar vivia entre Granito e Parnamirm.
  6. Jardim/CE - Onde Antônio de Souza Goulart também tinha terras, e onde alguns netos de Leonel de Alencar Rego viveram.
  7. Pio IX/PI - Onde faleceu Bárbara Pereira de Alencar.
  1. Distrito de Viana do Castelo - Portugal é dividido em distritos (o que para o Brasil equivale aos estados).
  2. Concelho de Viana do Castelo - Portugal é dividido em distritos (o que para o Brasil equivale aos estados).
  3. Freixieiro de Soutelo - Freguesia portuguesa onde vivia Leonel de Alencar Rego e sua família, e onde talvez ele tenha nascido. Fica no concelho de Viana do Castelo.
  4. Viana do Castelo - Formada pela junção de 2 freguesias (Monserrate à esquerda e Santa Maria Maior à direita). Freguesia portuguesa onde nasceu a mãe de Leonel, e é outro lugar possível de ele ter nascido. Fica no concelho de Viana do Castelo.

4- Considerações Finais

Vimos aqui a linhagem da minha bisavó Aurene Malaquias até o português Leonel de Alencar Rego, meu 9-avô (eneavô), que é o patriarca de todos os Alencar e, também de todos os Agra do Sertão Pernambucano e de Campina Grande/PB. Em trabalhos futuros veremos mais 3 gerações acima, chegando ao mais antigo Alencar até então encontrado. Veremos também as famílias agregadas a esta árvore: os Pereira de Carvalho (pela parte do pai de Antônio Pereira de Carvalho), bem como as outras agregadas às gerações mais jovens.
Ao contrário do que se vê em algumas comunidades e fóruns, a família Alencar, mesmo tendo sido muito rica e importante no sertão, não possui brasão. Leonel de Alencar Rego não tinha títulos de nobreza, nem seus pais. Os brasões que se vê por aí geralmente são os da família Lencastro e da família Aguilar, as quais não tem relação com os Alencar. Há dois Alencar que receberam o título de barão: Leonel Martiniano de Alencar (Barão de Alencar) e Gualter Martiniano de Alencar Araripe (Barão do Exu), os quais eram, respectivamente, trineto e bisneto do patriarca Leonel . Mesmo assim, não há registros de que nenhum dos 2 barões tenham tido brasão (e, mesmo que tivessem, só seus descendentes os ostentariam, tornando sem sentido para todos os Alencar, que são a esmagadora maioria, fazê-lo). [1]

O que ainda pode ser feito (inclusive por você)

  1. Ainda não foram encontrados os registros de nascimento e casamento dos irmãos Souza Goulart. Sabe-se que um deles (José) nasceu cerca de 1703, e que casou na Bahia. Os livros paroquiais dessa época de Salvador/BA estão online no familysearch.org (porém há várias igrejas para procurar), mas os de Cabo de Santo Agostinho/PE não estão (como vimos, esses são os dois locais possíveis de nascimento de Antônio de Souza Goulart). Encontrar esses documentos poderia nos levar a um ancestral açoriano, o que abriria a possibilidade de chegar até o belga Govaert Lodewijik, patriarca dos Goulart dos Açores.
  2. Se você por acaso é descendente em linha matrilinear (linha exclusivamente feminina, sem homens no trajeto) de Teodora Rodrigues da Conceição, seria interessante fazer o exame do seu DNA Mitocondrial, para encontrar as raízes étnicas da linhagem materna dela. Caso não saiba como fazer o teste, pode entrar em contato comigo que posso explicar.
  3. Se você é descendente de algum dos envolvidos neste post, pode entrar em contato comigo (pvegito@gmail.com) informando a sua linhagem até um destes antepassados, que terei o maior prazer em anexá-los ao conteúdo e árvores do blog.

Referências

  1. "Vida e Bravura | Origens e Genealogia da Família Alencar", de José Roberto de Alencar Moreira e Raidson Jenner Negreiros de Alencar.
  2. "Antigas Famílias do Sertão", do professor Yoni Sampaio.
  3. "Exu | Três Séculos de História", da professora Thereza Oldam de Alencar

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Dos Faria Machado e Rodrigues de Carvalho, de Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE

Este post é uma continuação do Dos Costa Agra, de Monserrate/Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE. Aqui veremos os ancestrais Faria Machado e Rodrigues de Carvalho de José da Costa Agra, filho de Luis da Costa Agra, percorrendo 3 gerações para trás, chegando até Carlos de Faria Machado e Francisco Rodrigues de Carvalho, dois portugueses imigrantes. A genealogia aqui tratada remete não só aos Malaquias de Queiroz, de Recife/PE, e aos Aquino Malaquias, do Rio de Janeiro/RJ, mas a todos os Granja e Agra de Parnamirim/PE e do restante do sertão pernambucano, além também dos Agra de Campina Grande/PB. É, ainda, possível que essa abrangência chegue a todos os Agra do nordeste, porém, quanto a isto, é uma mera especulação minha.

1- Início da pesquisa

Clique para revelar a introdução (parte pouco relevante em termos de genealogia)
Seguindo a pesquisa, cheguei a uma família misturada aos Agra, a Faria Machado, cujo entrelaçamento começou com o casamento (já no Brasil) entre Luis da Costa Agra e Ana Micaela de Faria Machado, meus octavós (e tetravós de Francisca Aurora). Como ela foi a única esposa de Luis, todos os Agra de Parnamirim/PE e de Campina Grande/PB também são Faria Machado.
As informações sobre os ancestrais tratados aqui, embora eu tenha encontrado algumas em alguns documentos originais, foram obtidas primeiramente através do livro "Antigas Famílias do Sertão", de YonY Sampaio, que cobria todos estes documentos.

Agradecimentos

Obrigado ao grande primo Herivelton Agra, morador de Parnamirim/PE e detentor do maior acervo da família Agra, o qual complementou bastante minhas pesquisas com documentos e livros que ele tem. Obrigado ao professor Yony Sampaio, pela gigantesca pesquisa que faz ao longo de muitos anos a qual foi compilada em alguns livros, que me foram cedidos. E, por fim, obrigado a tia Ana e aos primos do RJ, participantes do grupo "De onde os Malakas vieram", que se interessaram bastante pelo meu trabalho, o que me incentivou a continuar.

2- A pesquisa em si

Como vimos anteriormente, Aurene Malaquias, minha bisavó, era filha de Francisca Aurora, que era tetraneta de Luis da Costa Agra. Portanto começaremos com a árvore mostrada acima, que foi construída passo a passo nas postagens anteriores.

2.1- Família Faria Machado - Ana Micaela

José da Costa Agra, meu 7-avô (heptavô), era filho do capitão Luis da Costa Agra (já tratado na postagem anterior) e Ana Micaela de Faria Machado (também referida em alguns documentos como Ana Micaela de Souza), moradores nas fazendas Cocossó, Caraíbas e Curralinho. Ana Micaela nasceu em Cabrobó (dado encontrado no batismo de Francisco, seu filho, transcrito na obra de Yony Sampaio). Com seu marido teve ao menos 4 filhos: José da Costa Agra, Brígida da Costa Agra, Francisco da Costa Agra e Antônia da Costa Agra, já tratados na postagem anterior.

2.1.1- Família Faria Machado - Carlos

Ana Micaela de Faria Machado, minha 8-avó (octavó), era filha do capitão mor Carlos de Faria Machado e Brígida Rodrigues de Carvalho. Não se sabe ainda o ano em que Carlos nasceu, nem o local exato, apenas se sabe que foi em Portugal e por volta de 1700. Com sua esposa teve 3 filhos:
Valério Rodrigues de Carvalho, Ana Micaela de Faria Machado e Brígida Rodrigues de Carvalho. (Abrir detalhes)
  • Valério Rodrigues de Carvalho. Casou com Gertrudes Ribeiro, mas não tiveram filhos. [2]
  • Ana Micaela de Faria Machado (já tratada no tópico anterior).
  • Brígida Rodrigues de Carvalho (homônima da mãe). Nunca casou. Foi madrinha de Bárbara de Alencar (a heroína do Crato) em 1760. Foi também mãe adotiva de Teodora Rodrigues da Conceição, esposa de Joaquim Pereira de Alencar (octavós meus que tratarei no post sobre a família Alencar). [2]
Carlos ocupou diversas posições em Cabrobó, inclusive a de juiz de paz e a de tenente do mestre de campo general dos sertões da capitania de Pernambuco (como se pode ver na segunda ocorrência de seu nome no link dos Documentos de Pernambuco). Nas páginas que seguem a primeira ocorrência de seu nome podemos ver que ele é referido como capitão mor, e também que ele foi genro de Francisco Rodrigues de Carvalho. Nestas mesmas páginas, é mencionado que a esposa de Carlos era filha natural, e que fora casada anteriormente com o tenente Manoel da Silva Lima. Os textos que seguem a primeira, terceira e quarta ocorrência de seu nome tratam de uma disputa judicial pela terra (Fazenda do Riacho) deixada pelo falecimento de seu sogro, as quais são reclamadas pelo poderoso latifundiário coronel Francisco Garcia D'ávila Pereira, mesmo sendo alegado que Francisco Rodrigues de Carvalho as descobriu e colonizou por décadas. Há também mais um Documento da Bahia, também se tratando da mesma disputa judicial.

2.1.2- Família Rodrigues de Carvalho - Brígida

Como acabamos de ver, Ana Micaela de Faria Machado, minha 8-avó (octavó), era filha do capitão mor Carlos de Faria Machado e Brígida Rodrigues de Carvalho. Não se sabe ainda o ano em que Brígida nasceu, nem o local exato. Ela foi casada primeiramente com o tenente Manoel da Silva Lima. O casal teve um único filho: o Capitão João da Silva Lima (nascido provavelmente entre 1705 e 1720), o qual foi solteiro a vida inteira, mas teve 4 filhos naturais.[2]
Em 1728, encontra-se já casada com seu segundo marido, Carlos de Faria Machado, com quem teve os 3 filhos já citados.
Brígida foi herdeira única de seu pai, recebendo a imensa Fazenda do Riacho, a qual tinha 16 léguas de comprimento e "muita largura" (Yony Sampaio não menciona o valor exato da largura. Já a tradição oral diz que percorria toda a extensão do Rio Brígida, rio batizado em sua homenagem, o qual tem 193km), na qual seu pai criava 6 ou 7 mil cabeças de gado. As famílias Agra, Granja e parte da Alencar são descendentes dela, tendo seus primeiros representantes casado com suas filhas e netas.[2]
Como seu pai veio de Portugal e se instalou numa terra selvagem, a qual colonizou, e como ela é filha natural (e sua mãe nunca é mencionada nos documentos), Brígida deve ser filha de uma índia (ou, quem sabe, de uma africana). Naquela época era muito raro portuguesas virem ao Brasil, e sabe-se que havia 3 tribos pelas terras da Fazenda do Riacho, das quais muitos foram catequizados.

2.1.2.1- Família Rodrigues de Carvalho - Francisco

Brígida Rodrigues de Carvalho, minha eneavó, era filha de Francisco Rodrigues de Carvalho, o primeiro colonizador da região, e uma mulher desconhecida (provavelmente, como já vimos, uma índia). Não se sabe ainda quando e onde exatamente nasceu Francisco, sabe-se apenas que ele era português e que adentrou o sertão em 1663. Sua única filha foi Brígida.
Francisco Rodrigues de Carvalho foi um "loco-tenente" da Casa da Torre. Ele explorou e colonizou as terras ao longo de um dos rios que deságua no Rio São Francisco, o que viria mais tarde a ser a Fazenda do Riacho e o Rio Brígida.[2]
Frei Martim, ao aportar em Pambu, em 1672, o descreveu: "Chegou (...) um homem honesto, português, chamado Francisco Rodrigues... O português perguntou o motivo da minha presença. Declarando-o, ele manifestou toda a sua alegria e me pediu que me instalasse na Ilha de Pambu, bem defronte, onde havia uma bonita aldeia de cariris. Garantiu-me que todos os habitantes do rio teriam muita alegria com a minha presença e que tudo faria para me ajudar".[2]
Brígida declara sobre seu pai: "Com muito gasto e despesa de sua fazenda, domando três nações de gentio bárbaro que o enfestavam – Caracudos, Inxus e Umans - dispendendo muitos resgatos e ferramentas por peditório do senhorio da terra o Padre Antonio Pereira, primeiro descobridor deste sertão".[2]
Francisco Rodrigues de Carvalho recebe patente de Sargento mor em 1674, e pouco depois a de Capitão mor. Em 1688 recebe patente de Coronel de Infantaria das Ordenanças do Distrito da Cachoeira até a povoação de Rodelas.[2]
Perto do fim do século XVII, decide voltar a Portugal, mas retorna ao sertão antes de 1694, pois o coronel Francisco Dias D'Ávila (falecido em 1694) decidiu casá-lo com sua (provável) filha natural Joana D'Ávila de Figueiredo[2]. Desse casamento não houve filhos.[2]
Francisco faleceu em data anterior a 1714, quando já havia a disputa judicial pela Fazenda do Riacho entre Brígida e os Garcia D'Ávila.[2]
Há, ainda, uma Francisca Rodrigues de Carvalho, cujo parentesco Yony Sampaio não conseguiu descobrir. Ela é dada como portuguesa, algo raro nesta época, no Brasil. Pode ser sobrinha do Capitão Francisco Rodrigues de Carvalho, por conta de seu nome, e da data de casamento (aparentemente na década 1720). Como não é mencionada entre os filhos e como Brígida é declarada herdeira única, não seria filha.[2]

3- Mapa com os lugares abordados

Na imagem ao lado temos o Rio Brígida em vermelho, desde sua nascente na Serra do Araripe, em Exu/PE, até a sua foz no Rio São Francisco, e demais rios que desaguam no Brígida. Ele praticamente atravessa Pernambuco de norte a sul.

Mais à direita, ao sul, vemos Cabrobó, onde nasceu Ana Micaela de Faria Machado e onde seu pai exerceu diversos cargos.

4- Considerações Finais

Vimos aqui a linhagem da minha bisavó Aurene Malaquias até os portugueses Carlos de Faria Machado, meu 9-avô (eneavô), e Francisco Rodrigues de Carvalho, meu 10-avô (decavô), ambos patriarcas de todos os Agra e Granja (e parte dos Alencar) do Sertão Pernambucano e regiões vizinhas (e também dos Agra de Campina Grande/PB). Espero um dia avançar mais nos ramos aqui abordados, mas os livros paroquiais do sertão são de difícil acesso (não estão online, me restando apenas alguns poucos documentos avulsos online, e as obras de genealogistas como Yony Sampaio, José Roberto Moreira de Alencar, Nivaldo de Carvalho, Givaldo Peixoto entre outros, nas quais ainda não temos a freguesia e a data de nascimento de Carlos e Francisco).

O que ainda pode ser feito (inclusive por você)

  1. As linhagens masculinas de Carlos e Francisco foram extintas, mas ainda seria bem interessante encontrar uma descendente de Brígida em linha exclusivamente matrilinear, pois existe um exame de DNA que analisa o DNA mitocondrial, o qual é passado apenas de mãe para filho. Isso quer dizer que qualquer descendente em linha exclusivamente feminina dela terá o mesmo DNA mitocondrial que ela e seus ancestrais femininos, o que nos mostraria se sua mãe era realmente índia (ou se era negra ou portuguesa). É um exame caro (cerca de 150 dólares), mas que com o interesse de vários familiares, poderíamos dividir o valor.
  2. Os livros paroquiais do sertão pernambucano não estão disponíveis online. Caso um dia venham a estar, ou caso você more na região de Cabrobó e arredores, seria interessante encontrarmos os registros de casamento e óbito de Carlos e o de óbito de Francisco. Encontrar os registros de casamento e óbito de Francisca Rodrigues de Carvalho, a possível sobrinha de Francisco, também pode ser a chave para encontrar a freguesia de origem dele.
  3. Se você é descendente de algum dos envolvidos neste post, pode entrar em contato comigo (pvegito@gmail.com) informando a sua linhagem até um destes antepassados, que terei o maior prazer em anexá-los ao conteúdo e árvores do blog.

Referências

  1. Antigos documentos judiciais de Pernambuco e da Bahia, obtidos no site do Projeto Resgate, da Biblioteca Nacional do Brasil (http://resgate.bn.br/).
  2. "Antigas Famílias do Sertão", do professor Yony Sampaio.
  3. Atlas da Bacia Hidrográfica do Rio Brígida, obtido no site da Secretaria de Recursos Hídricos de Pernambuco (http://www.srhe.pe.gov.br/attachments/article/55/Brigida_GI9_atlas2006.pdf).

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Árvores Genealógicas 2

Árvores Genealógicas