quarta-feira, 6 de junho de 2018

Dos Faria Machado e Rodrigues de Carvalho, de Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE

Este post é uma continuação do Dos Costa Agra, de Monserrate/Portugal, aos Agra, de Parnamirim/PE. Aqui veremos os ancestrais Faria Machado e Rodrigues de Carvalho de José da Costa Agra, filho de Luis da Costa Agra, percorrendo 3 gerações para trás, chegando até Carlos de Faria Machado e Francisco Rodrigues de Carvalho, dois portugueses imigrantes. A genealogia aqui tratada remete não só aos Malaquias de Queiroz, de Recife/PE, e aos Aquino Malaquias, do Rio de Janeiro/RJ, mas a todos os Granja e Agra de Parnamirim/PE e do restante do sertão pernambucano, além também dos Agra de Campina Grande/PB. É, ainda, possível que essa abrangência chegue a todos os Agra do nordeste, porém, quanto a isto, é uma mera especulação minha.

1- Início da pesquisa

Clique para revelar a introdução (parte pouco relevante em termos de genealogia)
Seguindo a pesquisa, cheguei a uma família misturada aos Agra, a Faria Machado, cujo entrelaçamento começou com o casamento (já no Brasil) entre Luis da Costa Agra e Ana Micaela de Faria Machado, meus octavós (e tetravós de Francisca Aurora). Como ela foi a única esposa de Luis, todos os Agra de Parnamirim/PE e de Campina Grande/PB também são Faria Machado.
As informações sobre os ancestrais tratados aqui, embora eu tenha encontrado algumas em alguns documentos originais, foram obtidas primeiramente através do livro "Antigas Famílias do Sertão", de YonY Sampaio, que cobria todos estes documentos.

Agradecimentos

Obrigado ao grande primo Herivelton Agra, morador de Parnamirim/PE e detentor do maior acervo da família Agra, o qual complementou bastante minhas pesquisas com documentos e livros que ele tem. Obrigado ao professor Yony Sampaio, pela gigantesca pesquisa que faz ao longo de muitos anos a qual foi compilada em alguns livros, que me foram cedidos. E, por fim, obrigado a tia Ana e aos primos do RJ, participantes do grupo "De onde os Malakas vieram", que se interessaram bastante pelo meu trabalho, o que me incentivou a continuar.

2- A pesquisa em si

Como vimos anteriormente, Aurene Malaquias, minha bisavó, era filha de Francisca Aurora, que era tetraneta de Luis da Costa Agra. Portanto começaremos com a árvore mostrada acima, que foi construída passo a passo nas postagens anteriores.

2.1- Família Faria Machado - Ana Micaela

José da Costa Agra, meu 7-avô (heptavô), era filho do capitão Luis da Costa Agra (já tratado na postagem anterior) e Ana Micaela de Faria Machado (também referida em alguns documentos como Ana Micaela de Souza), moradores nas fazendas Cocossó, Caraíbas e Curralinho. Ana Micaela nasceu em Cabrobó (dado encontrado no batismo de Francisco, seu filho, transcrito na obra de Yony Sampaio). Com seu marido teve ao menos 4 filhos: José da Costa Agra, Brígida da Costa Agra, Francisco da Costa Agra e Antônia da Costa Agra, já tratados na postagem anterior.

2.1.1- Família Faria Machado - Carlos

Ana Micaela de Faria Machado, minha 8-avó (octavó), era filha do capitão mor Carlos de Faria Machado e Brígida Rodrigues de Carvalho. Não se sabe ainda o ano em que Carlos nasceu, nem o local exato, apenas se sabe que foi em Portugal e por volta de 1700. Com sua esposa teve 3 filhos:
Valério Rodrigues de Carvalho, Ana Micaela de Faria Machado e Brígida Rodrigues de Carvalho. (Abrir detalhes)
  • Valério Rodrigues de Carvalho. Casou com Gertrudes Ribeiro, mas não tiveram filhos. [2]
  • Ana Micaela de Faria Machado (já tratada no tópico anterior).
  • Brígida Rodrigues de Carvalho (homônima da mãe). Nunca casou. Foi madrinha de Bárbara de Alencar (a heroína do Crato) em 1760. Foi também mãe adotiva de Teodora Rodrigues da Conceição, esposa de Joaquim Pereira de Alencar (octavós meus que tratarei no post sobre a família Alencar). [2]
Carlos ocupou diversas posições em Cabrobó, inclusive a de juiz de paz e a de tenente do mestre de campo general dos sertões da capitania de Pernambuco (como se pode ver na segunda ocorrência de seu nome no link dos Documentos de Pernambuco). Nas páginas que seguem a primeira ocorrência de seu nome podemos ver que ele é referido como capitão mor, e também que ele foi genro de Francisco Rodrigues de Carvalho. Nestas mesmas páginas, é mencionado que a esposa de Carlos era filha natural, e que fora casada anteriormente com o tenente Manoel da Silva Lima. Os textos que seguem a primeira, terceira e quarta ocorrência de seu nome tratam de uma disputa judicial pela terra (Fazenda do Riacho) deixada pelo falecimento de seu sogro, as quais são reclamadas pelo poderoso latifundiário coronel Francisco Garcia D'ávila Pereira, mesmo sendo alegado que Francisco Rodrigues de Carvalho as descobriu e colonizou por décadas. Há também mais um Documento da Bahia, também se tratando da mesma disputa judicial.

2.1.2- Família Rodrigues de Carvalho - Brígida

Como acabamos de ver, Ana Micaela de Faria Machado, minha 8-avó (octavó), era filha do capitão mor Carlos de Faria Machado e Brígida Rodrigues de Carvalho. Não se sabe ainda o ano em que Brígida nasceu, nem o local exato. Ela foi casada primeiramente com o tenente Manoel da Silva Lima. O casal teve um único filho: o Capitão João da Silva Lima (nascido provavelmente entre 1705 e 1720), o qual foi solteiro a vida inteira, mas teve 4 filhos naturais.[2]
Em 1728, encontra-se já casada com seu segundo marido, Carlos de Faria Machado, com quem teve os 3 filhos já citados.
Brígida foi herdeira única de seu pai, recebendo a imensa Fazenda do Riacho, a qual tinha 16 léguas de comprimento e "muita largura" (Yony Sampaio não menciona o valor exato da largura. Já a tradição oral diz que percorria toda a extensão do Rio Brígida, rio batizado em sua homenagem, o qual tem 193km), na qual seu pai criava 6 ou 7 mil cabeças de gado. As famílias Agra, Granja e parte da Alencar são descendentes dela, tendo seus primeiros representantes casado com suas filhas e netas.[2]
Como seu pai veio de Portugal e se instalou numa terra selvagem, a qual colonizou, e como ela é filha natural (e sua mãe nunca é mencionada nos documentos), Brígida deve ser filha de uma índia (ou, quem sabe, de uma africana). Naquela época era muito raro portuguesas virem ao Brasil, e sabe-se que havia 3 tribos pelas terras da Fazenda do Riacho, das quais muitos foram catequizados.

2.1.2.1- Família Rodrigues de Carvalho - Francisco

Brígida Rodrigues de Carvalho, minha eneavó, era filha de Francisco Rodrigues de Carvalho, o primeiro colonizador da região, e uma mulher desconhecida (provavelmente, como já vimos, uma índia). Não se sabe ainda quando e onde exatamente nasceu Francisco, sabe-se apenas que ele era português e que adentrou o sertão em 1663. Sua única filha foi Brígida.
Francisco Rodrigues de Carvalho foi um "loco-tenente" da Casa da Torre. Ele explorou e colonizou as terras ao longo de um dos rios que deságua no Rio São Francisco, o que viria mais tarde a ser a Fazenda do Riacho e o Rio Brígida.[2]
Frei Martim, ao aportar em Pambu, em 1672, o descreveu: "Chegou (...) um homem honesto, português, chamado Francisco Rodrigues... O português perguntou o motivo da minha presença. Declarando-o, ele manifestou toda a sua alegria e me pediu que me instalasse na Ilha de Pambu, bem defronte, onde havia uma bonita aldeia de cariris. Garantiu-me que todos os habitantes do rio teriam muita alegria com a minha presença e que tudo faria para me ajudar".[2]
Brígida declara sobre seu pai: "Com muito gasto e despesa de sua fazenda, domando três nações de gentio bárbaro que o enfestavam – Caracudos, Inxus e Umans - dispendendo muitos resgatos e ferramentas por peditório do senhorio da terra o Padre Antonio Pereira, primeiro descobridor deste sertão".[2]
Francisco Rodrigues de Carvalho recebe patente de Sargento mor em 1674, e pouco depois a de Capitão mor. Em 1688 recebe patente de Coronel de Infantaria das Ordenanças do Distrito da Cachoeira até a povoação de Rodelas.[2]
Perto do fim do século XVII, decide voltar a Portugal, mas retorna ao sertão antes de 1694, pois o coronel Francisco Dias D'Ávila (falecido em 1694) decidiu casá-lo com sua (provável) filha natural Joana D'Ávila de Figueiredo[2]. Desse casamento não houve filhos.[2]
Francisco faleceu em data anterior a 1714, quando já havia a disputa judicial pela Fazenda do Riacho entre Brígida e os Garcia D'Ávila.[2]
Há, ainda, uma Francisca Rodrigues de Carvalho, cujo parentesco Yony Sampaio não conseguiu descobrir. Ela é dada como portuguesa, algo raro nesta época, no Brasil. Pode ser sobrinha do Capitão Francisco Rodrigues de Carvalho, por conta de seu nome, e da data de casamento (aparentemente na década 1720). Como não é mencionada entre os filhos e como Brígida é declarada herdeira única, não seria filha.[2]

3- Mapa com os lugares abordados

Na imagem ao lado temos o Rio Brígida em vermelho, desde sua nascente na Serra do Araripe, em Exu/PE, até a sua foz no Rio São Francisco, e demais rios que desaguam no Brígida. Ele praticamente atravessa Pernambuco de norte a sul.

Mais à direita, ao sul, vemos Cabrobó, onde nasceu Ana Micaela de Faria Machado e onde seu pai exerceu diversos cargos.

4- Considerações Finais

Vimos aqui a linhagem da minha bisavó Aurene Malaquias até os portugueses Carlos de Faria Machado, meu 9-avô (eneavô), e Francisco Rodrigues de Carvalho, meu 10-avô (decavô), ambos patriarcas de todos os Agra e Granja (e parte dos Alencar) do Sertão Pernambucano e regiões vizinhas (e também dos Agra de Campina Grande/PB). Espero um dia avançar mais nos ramos aqui abordados, mas os livros paroquiais do sertão são de difícil acesso (não estão online, me restando apenas alguns poucos documentos avulsos online, e as obras de genealogistas como Yony Sampaio, José Roberto Moreira de Alencar, Nivaldo de Carvalho, Givaldo Peixoto entre outros, nas quais ainda não temos a freguesia e a data de nascimento de Carlos e Francisco).

O que ainda pode ser feito (inclusive por você)

  1. As linhagens masculinas de Carlos e Francisco foram extintas, mas ainda seria bem interessante encontrar uma descendente de Brígida em linha exclusivamente matrilinear, pois existe um exame de DNA que analisa o DNA mitocondrial, o qual é passado apenas de mãe para filho. Isso quer dizer que qualquer descendente em linha exclusivamente feminina dela terá o mesmo DNA mitocondrial que ela e seus ancestrais femininos, o que nos mostraria se sua mãe era realmente índia (ou se era negra ou portuguesa). É um exame caro (cerca de 150 dólares), mas que com o interesse de vários familiares, poderíamos dividir o valor.
  2. Os livros paroquiais do sertão pernambucano não estão disponíveis online. Caso um dia venham a estar, ou caso você more na região de Cabrobó e arredores, seria interessante encontrarmos os registros de casamento e óbito de Carlos e o de óbito de Francisco. Encontrar os registros de casamento e óbito de Francisca Rodrigues de Carvalho, a possível sobrinha de Francisco, também pode ser a chave para encontrar a freguesia de origem dele.
  3. Se você é descendente de algum dos envolvidos neste post, pode entrar em contato comigo (pvegito@gmail.com) informando a sua linhagem até um destes antepassados, que terei o maior prazer em anexá-los ao conteúdo e árvores do blog.

Referências

  1. Antigos documentos judiciais de Pernambuco e da Bahia, obtidos no site do Projeto Resgate, da Biblioteca Nacional do Brasil (http://resgate.bn.br/).
  2. "Antigas Famílias do Sertão", do professor Yony Sampaio.
  3. Atlas da Bacia Hidrográfica do Rio Brígida, obtido no site da Secretaria de Recursos Hídricos de Pernambuco (http://www.srhe.pe.gov.br/attachments/article/55/Brigida_GI9_atlas2006.pdf).